A (nova) Era Digital é apaixonante e incorpora em si mesma um fascínio irradiante. Para aprofundar a nossa reflexão e enriquecer o nosso conhecimento, devemos analisar não só o lado bom dos desafios da transformação digital mas também identificar o seu lado menos bom. Só desta forma poderemos decidir qual o caminho a escolher e de que forma potenciamos os pontos fortes / oportunidades, e de que forma mitigamos os pontos fracos / ameaças.
Não se podem pois ignorar um conjunto de preocupações que deverão ser devidamente acauteladas por forma a mitigar o potencial lado sombrio desta fascinante transformação digital. Neste post apresentarei as primeiras duas de quatro preocupações que deveremos ter presente neste deslumbrante vulcão tecnológico de inovação digital.
Em primeiro lugar, compreender o que sucede às pessoas. As revoluções tecnológicas são visionadas por pessoas, executadas com as pessoas e destinadas para as pessoas.
Vejamos. O caminho-de-ferro, a máquina a vapor e a locomotiva (as invenções com maior destaque na primeira revolução industrial) e, o aparecimento da electricidade e das linhas de produção na indústria (as invenções com maior destaque na segunda revolução industrial) geraram um fenómeno de migração massiva das populações para as cidades (o êxodo rural). As pessoas deixaram o sector agrícola e passaram a trabalhar no sector industrial. Décadas mais tarde, após o términus da segunda guerra, com a utilização combinada de várias fontes de energia tais como o petróleo, a hidroeléctrica, a nuclear e a eólica e o aparecimento do computador (as invenções com maior destaque na terceira revolução industrial), o sector industrial foi extremamente automatizado. Emergiram felizmente inúmeras oportunidades de trabalho no sector terciário. Verificou-se então uma migração das pessoas para o sector dos serviços. A automatização do trabalho obrigou as populações a deslocalizarem-se de lugar, do campo para as cidades, e entre sectores, do primário para o secundário / terciário, com o objectivo de criar fontes alternativas de rendimento necessárias para o seu sustento.
No entanto, os impactos eram sentidos de forma progressiva e lenta. Passaram-se vários séculos entre a revolução agrária e a primeira revolução industrial, diversas décadas entre as segunda e terceira revoluções industriais, escassos anos para a atual quarta revolução digital. Estimaremos meses na era da robótica e da impressão 3D?
Note-se que a digitalização (automatização) da mão-de-obra humana é uma realidade que se verifica no sector dos serviços de forma profunda e exponencial, continuando a aperfeiçoar-se na agricultura e na indústria. Como se adaptarão as pessoas e a sociedade em geral à digitalização do fator trabalho numa era de superabundância de recursos humanos, em que nascemos mais e vivemos mais?
A atual transformação digital, transversal a todos os sectores económicos – agricultura, indústria e serviços, aparentemente, não está a gerar oportunidades equivalentes, em quantidade de novos postos de trabalho, que permita a histórica migração das pessoas. Esta é uma preocupação sobre a qual deveremos pensar pois o impacto nas nossas vidas serão a curtíssimo prazo, considerando a velocidade de propagação em rede digital, facilitadora da implementação e adopção das inovações.
O digital é um meio para obter um produto ou um serviço nas nossas vidas. Sendo assim nunca deveria adquirir vida própria, pelo contrário, deveria estar sempre ao nosso serviço. Nas revoluções tecnológicas anteriores a máquina tem estado ao serviço do homem. Nesta revolução digital será que é o homem que passará a estar serviço da máquina, pelo efeito da evolução da robótica e da inteligência artificial?
Em segundo lugar, compreender o efectivo reenquadramento profissional da atual população activa, a mão-de-obra que está disponível para trabalhar.
É fundamental que as pessoas possam estar ocupadas pela sua força de trabalho, de forma remunerada para, por um lado, satisfazer as suas necessidades fisiológicas e de segurança que Maslow identificou, fundamentais para assegurar o bem-estar individual e o das famílias (ter à sua disposição comida suficiente para viver e não ter de sofrer privações) e, por outro, poderem contribuir para a criação de valor da empresa (proporcionar proveitos superiores ao custo do seu salário e demais benefícios).
Não devemos também esquecer que, fruto da evolução da própria ciência, o número médio de anos que uma pessoa à nascença pode esperar viver são cada vez mais. Neste contexto, é expectável que a permanência no mercado de trabalho seja também mais longa.
Assim sendo, quais as novas skills que devemos aprender para nele permanecermos de forma pró-ativa? A evolução frenética da tecnologia exige uma formação contínua adaptada às necessidades evolutivas do negócio renovadas em curtíssimos ciclos temporais. A longevidade da formação é portanto cada vez mais curta. Quais as competências em que deveremos investir? O que devemos aconselhar aos nossos filhos, a geração seguinte?
Ainda neste contexto, emerge um novo paradigma laboral “trabalho na cloud”. Será que o imediato benefício da mobilidade e da flexibilidade laboral se transformará, a médio prazo, no maléfico conceito de “tarefeiro digital”? Será que o novo mercado de trabalho sustentado na competitividade global implicará uma remuneração decrescente do fator trabalho? Será que o trabalho na Era Digital se tornará precário pela inexistência de vínculo e da sua curta longevidade?
[…] Post A Matriz da Atitude e a Liderança 3/3Next Post Os desafios do “lado sombrio” da Transformação Digital 2/4 Follow DESAFIOS DA GESTÃO ESTRATÉGICA on WordPress.com (function(d){var f = […]
LikeLike
[…] Os desafios do “lado sombrio” da Transformação Digital 2/4 – DESAFIOS DA GESTÃO… 10/27/2016 at 09:31 Reply […]
LikeLike