O tema da competitividade e da produtividade continua bem vivo e a nortear o crescimento e o desenvolvimento económico dos países e do mundo empresarial, cada vez mais conectados em rede digital global.
A competitividade e a produtividade estão associadas, de forma simplista, à competição (ser melhor que o outro) e à produção (obter mais resultados). É assim na vida pessoal, académica e profissional e, também é assim, entre países, empresas e trabalhadores.
Contudo, são “chavões” que significam muitas coisas para pessoas diferentes e podem, por isso, ser usados e interpretados de forma também diferente. Para correctamente se compreenderem expressões como a “Alemanha é mais competitiva que Portugal” ou “Portugal está abaixo dos níveis médios da produtividade europeia”, é preciso ter presente o significado dos seguintes conceitos:
- Produto Interno Bruto (PIB), que representa o valor de mercado de todos os bens e serviços finais produzidos por um país, num determinado período de tempo.
- PIB per capita, que representa o valor (médio) da produção de um habitante de um país, num determinado período de tempo.
O apuramento do PIB per capita pode ser apresentado e/ou analisado sob duas perspetivas económicas diferentes, mas complementares entre si:
- A primeira ótica, a tradicional, determina o PIB per capita dividindo o PIB pelo número de habitantes de um País;
- A segunda ótica, a apresentada na figura, determina o PIB per capita através da multiplicação de um conjunto de rúbricas e / ou de fatores.
Primeira ótica
É classicamente leccionada nos cursos de economia e gestão. Pressupõe o apuramento prévio do PIB, obtido pelo somatório de diversas rubricas, a saber:
- O consumo privado das famílias e empresas;
- O investimento privado;
- Os gastos gerais do Estado;
- O saldo da balança comercial.
O consumo, investimento e gastos gerais constituem a procura interna. A balança comercial constitui a procura externa.
O consumo privado, vulgo ato de consumir, é fortemente condicionado pelo poder de compra, pela estagnação de salários, pelo desemprego e pelo endividamento das famílias e empresas.
O investimento privado – famílias e empresas – está dependente de diversos fatores tais como o nível de endividamento que condiciona os novos investimentos, da saúde do sistema financeiro para conceder crédito, dos incentivos concedidos pelo Estado, do funcionamento da justiça, da maior ou menor burocracia instalada, da flexibilidade da legislação laboral e da evolução da economia.
Obviamente, que ninguém investe para produzir para stock. A capacidade instalada de produção deve estar ajustada ao consumo dos mercados interno e externo.
Os gastos gerais do Estado – consumo público e investimento público – estão condicionados pela receita fiscal obtida, que será maior ou menor, em função do bem-estar da economia. Caso a despesa seja superior à receita diz-se que as contas públicas estão deficitárias.
A balança comercial informa a diferença entre as exportações e as importações. As exportações devem ser superiores às importações. Mais exportações significam mais investimento, mais emprego, mais rendimento e, por esta via, mais consumo.
O somatório das rubricas referidas – consumo, investimento, gastos gerais e balança comercial – quando dividido pelo total da população permite apurar o indicador PIB per capita, um índice comparável da produção média criada por cada habitante de um País num determinado período.
Segunda ótica
É uma perspetiva menos partilhada mas muito objetiva (ver figura). Resulta do produto sucessivo entre diversas rúbricas, a saber:
taxa de atividade * taxa de emprego * capacidade instalada* produção
A taxa de atividade resulta do rácio entre a população ativa (apta) para ingressar no mercado de trabalho (dita população economicamente ativa) e o conjunto de todas as pessoas de um país (população total).
A taxa de emprego resulta do rácio entre a população empregada e a população ativa. Representa o número de pessoas empregadas em cada 100. As restantes desocupadas representam a taxa de desemprego.
A capacidade instalada (hora/homem) resulta do rácio entre o número de horas disponíveis para o trabalho e a população empregada.
O apuramento das horas disponíveis depende do período laboral que estiver legislado no país em análise, nomeadamente, o número de horas de trabalho semanal instituídas. Por exemplo, no caso português, considerando que o ano tem 365 dias, que existem 52 fins de semanas, que estão instituídos 13 dias de feriados nacionais e que, conforme a legislação do trabalho, está estabelecido um máximo de 8 horas de trabalho diário num total de 40 horas semanais e que se tem direito a 22 dias úteis de férias, somente estão disponíveis 226 dias para trabalho efetivo, num total de 1808 horas diárias. Este é o número de horas que cada cidadão apto para o trabalho tem disponível para produzir bens e serviços e criar riqueza em qualquer setor da economia.
A produção (output/hora) resulta do rácio entre o somatório da produção efetiva de bens e serviços e o número de horas disponíveis que a população empregada dispõe para produzir.
O PIB per capita , neste caso, obtém-se pela multiplicação das quatro rúbricas (fatores) apresentados. O produto será zero sempre que um qualquer fator seja zero (o zero é o elemento absorvente da multiplicação). A intervenção numa qualquer componente da fórmula permite melhorar a produção média por habitante.
Conhecidas as duas perspetivas do apuramento do PIB per capita, certamente, melhor se compreendem os “chavões” da competitividade e da produtividade (ver figura), repetidamente usados por todos e a propósito de quase tudo.
O chavão da competitividade
A competitividade é um conceito associado ao êxito relativo mensurável.
Um país só pode ser competitivo, obter mais êxito do que outro, se capacitar adequadamente a sua população (força de trabalho potencial) através do investimento realizado na educação e na especialização, por forma a criar uma mão-de-obra qualificada (inteligência laboral potencial) para satisfazer o mercado de trabalho ou para desenvolver o empreendedorismo.
Um país só pode ser mais competitivo que outro se realizar os investimentos necessários em recursos materiais, financeiros e humanos para criar infra-estruturas produtivas (o mercado de trabalho), maximizando as suas caraterísticas únicas (população, clima, recursos naturais) e agilizando as suas regras governamentais, com o objetivo de criar um clima de confiança favorável para o bom funcionamento do mercado.
As infra-estruturas são absolutamente críticas para permitir o acesso a clientes e a fornecedores, à rápida deslocação das matérias-primas entre indústrias, e no final, pela sua ágil distribuição para o mercado nacional e o de exportação. Ainda sobre infra-estruturas refira-se a importância de desenvolver os recursos tecnológicos, do acesso generalizado à internet e das telecomunicações, para garantir a presença no mercado da economia digital.
O chavão da produtividade
A produtividade é um conceito associado à transformação da capacidade instalada em produção de bens e serviços.
Um país dito produtivo é aquele que consegue gerir o tempo disponível e os demais recursos para produzir com elevada eficácia. Obviamente, que não existe uma relação de proporcionalidade direta entre o tempo disponível para o trabalho e a produção obtida.
Contudo, importa clarificar que mais importante que o tempo (esforço) que se está no trabalho é o que se produz (intensidade) enquanto se está no trabalho.
Um país só pode obter níveis de produtividades favoráveis, produzir mais do que outro, se transformar o investimento realizado nos fatores de produção (terra, trabalho, capital) em quantidade de bens e serviços produzidos (produção). A maximização desta relação (obter maior produção com a mesma quantidade de recursos ou obter a mesma produção com menor quantidade de recursos), constitui a sua eficiência, determinante na avaliação da capacidade dos países para remunerar o fator trabalho (salários) e para potenciar o retorno do capital investido.
A produção obtida deve ser diversificada (para mitigar os riscos de concentração económica) e complementar entre si (para garantir diversas fontes de receitas) contribuindo, desta forma, para a estabilidade e a sustentabilidade do país, Estado, indústria, empresa e do cidadão em geral.
A relação referida entre o uso dos fatores de produção e o produto interno bruto a obter deve ser máxima, isto é, deve exceder a capacidade do consumo interno (fonte de receita interna) para garantir um “músculo” regular de exportação (fonte de receita externa) que promova a auto-suficiência e a sustentabilidade da economia e das empresas.
Conclusão
Somos coletivamente e interdependentemente responsáveis pelos níveis de crescimento e desenvolvimento alcançados, que se desejam positivos e recorrentes, com impacto positivo no bem-estar sócio-económico transgeracional.
Constituem direitos e deveres recíprocos do Estado, Empresas e dos Cidadãos (todos nós) promover o desenvolvimento das competências (capacitar a população para o trabalho), dinamizar o mercado de trabalho (valorizar a mão de obra disponível), consumir com eficácia o tempo e os demais recursos disponíveis (gerir o esforço) e melhorar a intensidade produtiva (maximizar a produção individual) para, desta forma, se galvanizarem os níveis de competitividade e da produtividade do País.