A COVID-19 (“Corona”, “Vírus” e “Doença”) é o nome atribuído pela Organização Mundial da Saúde “à doença provocada pelo novo coronavírus SARS-COV-2, que pode causar infeção respiratória grave como a pneumonia”. O vírus foi identificado pela primeira vez (em humanos), no final de 2019 (dezembro?), na China, cidade de Wuhan, província de Hubei.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou, em 11 de março de 2020, que está em curso uma pandemia do novo coronavírus. A pandemia é, pois, uma epidemia que se verifica, em simultâneo, à escala global em vários países (mais de 100 países?). Acontece quando a população não está imunizada, não existem medicamentos adequados para o tratamento nem vacina apropriada para a prevenção. Assim sendo, o contágio é exponencial e a disseminação da doença é de difícil controlo.
Ninguém estava preparado. Não existem melhores preparados. O que existe é uma maior ou menor capacidade para reagir e tomar decisões, nesta fase, todas reactivas, perante uma pandemia totalmente desconhecida.
Os Estados, as empresas e os cidadãos consomem a informação disponível em tempo real e tomam decisões em função do conhecimento que detêm. Por exemplo, tomada de decisões quanto ao aprovisionamento dos hospitais com ventiladores e kits de proteção individual para profissionais de saúde, deslocações profissionais internacionais, viagens de férias, o uso, ou não, de máscaras na circulação quotidiana dos cidadãos. Todas estas decisões, com melhores ou piores resultados, dependem da informação e conhecimento que se encontra disponível.
Podia ter sido prevista? Talvez. Alexandre Adler, um historiador francês, jornalista e especialista em geopolítica contemporânea publicou, em 2009, o livro “O novo relatório da CIA – Como será o mundo em 2025?”. Na página 188, escreveu “O aparecimento de uma nova doença respiratória humana virulenta, extremamente contagiosa, para a qual não existe tratamento adequado, poderá desencadear uma pandemia mundial … As nações esforçar-se-ão, com capacidades insuficientes … Segundo os especialistas, as estirpes altamente patogénicas da gripe das aves, como o H5N1, são candidatos prováveis a este tipo de transformação (recombinação de estirpes virais), …, assim como o coronavírus da síndrome respiratória aguda grave … Se se declarar uma doença pandémica, será sem dúvida numa zona de forte densidade populacional, de grande proximidade entre seres humanos e animais, como acontece na China e no Sudeste Asiático … Apesar de restrições às deslocações internacionais … Os doentes seriam cada vem mais numerosos, aparecendo novos casos todos os meses, …”.
Estas visões, tal como as que anteviam a crise financeira do sub-prime em finais de 2007, nunca são valorizadas pelos dirigentes. Ninguém acredita no que não vê. Ninguém se prepara para o que não acredita! É simples. Quem, não é assim?
Os continentes apresentam resultados diferentes. Claro que sim. Contudo, não se podem tirar conclusões precipitadas.
A leitura dos números deve considerar a estratificação da população, as suas condições de saúde e as condições sanitárias básicas. Por exemplo, o continente europeu será o que terá maior número de mortes por ser o continente populacional mais envelhecido? O continente asiático será o que terá o menor número de mortes por uso generalizado de máscaras, aliás um procedimento habitual fruto da poluição do ar que respiram e dos frequentes problemas respiratórios existentes?
A leitura dos números deverá ter sempre em linha de conta os valores absolutos, os valores percentuais e como comparam com outras doenças igualmente letais. Por exemplo, a COVID-19 mata mais por número de milhão de habitantes do que o acidente vascular cerebral, a alzheimer, o cancro, a diabetes, a tuberculose, a malária, e tantas outras doenças letais?
A leitura dos números deve ser interpretada de forma isenta. Vejamos o exemplo de cálculo da taxa de mortalidade geral hospitalar que resulta da relação entre o número de óbitos ocorridos em pacientes internados, durante um determinado período, e o número de pacientes “saídos” (altas e óbitos), no mesmo período. Isto significa que somente os doentes testados, internados, recuperados e de mortos com causa atribuída à doença, neste caso à COVID-19, são considerados como números oficiais hospitalares. O critério referido está errado, dirão alguns, pois só se consideram os pacientes internados há mais de 48 horas. Outros dirão outra coisa, enfim, tudo o que acham correto, com base no critério que utilizam e na capacidade instalada que detêm para reunir, tratar e produzir informação, de forma recorrente e regular.
A informação só pode ser comparável se os critérios usados pelos diferentes países forem os mesmos. Infelizmente, não o são. Contudo, ainda assim, representam a amostra oficial possível sobre a gravidade da situação. Os números “verdadeiros” da situação são, certamente muito superiores, mas nunca os iremos conhecer. É uma pena. Pois a informação gera conhecimento e facilita o processo de tomada de decisão presente e futura.
Comos respondemos?
A COVID-19 é uma pandemia. Os Estados gastam e continuarão a despender muito dinheiro no tratamento, controlo e prevenção futura da doença.
Os impactos económicos, traduzidos nas falências dos Estados, Empresas e Famílias, com elevado desemprego, fome e aumento de criminalidade, serão tão ou mais devastadoras do que o atual e futuro perigo de vida provocado pela pandemia.
Para situações extraordinárias, exigem-se soluções radicais extraordinárias. Infelizmente, não é o caso.
A solução tradicional de resolução de situações extremas passa pelo financiamento do Estado, das empresas e dos cidadãos, através da emissão de dívida pública, criação de linha de crédito específicas e de concessão casuística de crédito, ou outras variantes de crédito específicas.
O aumento da dívida é a única solução que conseguimos proferir?
Imagine-se o cenário que os Estados estimam os verdadeiros impactos da pandemia e estruturam uma resposta conjunta de emissão extraordinária de moeda, entregue de forma “pro bono”, em fases e de forma controlada, aos Estados, às empresas e às famílias. Os economistas poderiam estimar cenários para prever os impatos faseados da medida, no comportamento cambial das moedas e nas respetivas taxas de inflação. Um novo desafio, radical e extraordinário? Assim o é, tal como o desafio que a classe científica enfrenta para descobrir uma cura para a nova doença.
Não seria justo promover e pensar num novo recomeço? Ou queremos demonstrar que somos sempre os melhores e mais bem preparados que o outro, não viabilizando outras soluções, esta ou outras, por não reconhecer a necessidade de recomeçar? Recomeçar e reconstruir não é o que se faz após períodos de Guerra, declarados por Estado de Emergência?
Como será o futuro?
Diferente. A nova normalidade será diferente da normalidade atual! A COVID-19 não vai desaparecer. Teremos todos de aprender a conviver e a gerir a nova realidade. Algumas medidas agora estabelecidas, com carácter temporário, tornar-se-ão permanentes e, outras, novas a implementar, surgirão em resultado da evolução da curva de aprendizagem e das novas necessidades que ainda não se conhecem ou se antecipam.
Rever as diversas formas como nos relacionamos, agilizar e flexibilizar processos e procedimentos representa, cada vez mais, a oportunidade dos agentes económicos e de todos nós nos reinventarmos:
Na aceleração da transformação digital dos processos, atuais e novos, que resultarão da reflexão interna de cada empresa e dos Estados, gerando uma sociedade ainda mais digital, certamente mais eficiente, mas não necessariamente, mais humana.
Na forma de nos relacionarmos. Cada vez mais, devemos usar os recursos estritamente necessários. A transformação digital cria processos de negócio e agiliza os atuais, mas não dispensa os físicos existentes. A combinação de ambos, em função da situação, determinará o novo modelo de relação. Os exemplos serão ilimitados pois a pergunta que carece sempre de resposta será: preciso mesmo da presença física do meu cliente, fornecedor, colaborador, médico, doente, especialista ou outro, ou o seu contributo pode ser prestado à distância?
Na Educação, por exemplo, continuarão as aulas à distância e outras em modelo presencial, assim como passarão a existir exames on-line, mesmo os de finais de ciclo ou de admissão ao ensino superior.
Na Saúde, por exemplo, continuaremos a ser examinados presencialmente, mas teremos muitas consultas médicas à distância, assim como no caso da prescrição de medicação, para situações de rotina e nos casos de doença crónica, generalizar-se-á a dispensa da presença do doente.
No Trabalho, que combinará cada vez mais o contexto de flexibilidade entre homeoffice e escritório físico, consoante as necessidades dos projectos e as atividades em curso. O próprio modelo funcional de escritório será diferente.
Na organização da sociedade. É a classe política dirigente que legisla, regula e fiscaliza o funcionamento das atividades económicas. Por exemplo, definem-se horários padronizados de funcionamento setorial que obriga a sociedade a “mover-se” diariamente à mesma hora: entrada ao serviço, período de almoço, saída do serviço, períodos de férias, critérios presenciais de assiduidade, entre outros. Poderemos criar outro modelo organizacional?
Até à data defende-se, e bem, que a liberdade de cada um termina onde começa a do próximo. No atual contexto de pandemia, diria que a liberdade de circulação de cada um termina quando compromete a segurança de vida do próximo, pelo efeito de contágio. Sabemos agora, mais do que nunca, que viver na incerteza é a única certeza que conhecemos.
Neste contexto, o restabelecimento da Confiança da circulação de pessoas e o acesso fidedigno a informação, em paralelo com a convivência da COVID-19 é, sem dúvida, o novo paradigma dos países, que requer um elevado e consciente sentido de urgência.
Por um lado, temos de proteger a vida e, por outro, temos de proteger a subsistência económica das populações. O vírus não vai desaparecer, as nossas necessidades e os compromissos diários também não. Protejam-se as populações na sua circulação e relacionamento social. Reforcem-se os hospitais e agilizem-se os testes.
Mas, por favor, sejamos rápidos a lidar com a “nova normalidade” criando soluções não, necessariamente perfeitas, mas ao ritmo dos impactos colaterais da COVID-19, sob pena de ser tarde mais. A circulação do sangue está para o corpo humano tal como a circulação do dinheiro está para a economia. Se parar de circular, morre.
Vamos todos “proteger” a circulação, viabilizando-a com regras (sim!) e de forma controlada em cada país (medidas de proporcionalidade!), e com elevado respeito pela COVID-19 e pelo próximo (civismo!). Sejamos individualmente conscientes, com elevado sentido de missão e de responsabilidade coletiva.
Mais um excelente artigo, com o inconfundível estilo à Fernando Braga! Sempre atento e crítico às novas realidades. Um abraço
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Excelente artigo Fernando Braga!
Grato pela partilha do teu conhecimento e visão perante o período, o qual todos nós atravessamos.
Fica no ar a questão, como irá interagir a sociedade e como será o desenvolvimento e sustentabilidade da economia daqui para a frente…?
Um grande bem haja. Forte abraço
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[…] em abril do ano passado escrevi sobre a pandemia – “COVID-19 ameaça Humanidade e impõe Nova Normalidade!” – iniciada em dezembro de 2019, estava consciente da gravidade da situação, mas não […]
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