A gestão financeira de uma empresa foca-se na criação e na captura de valor. A criação de valor (oferta de bens e serviços) incorpora investimento em recursos financeiros (capital próprio e capital alheio), materiais (investimento em ativo não corrente e activo corrente) e humanos (mão-de-obra especializada em back-office, middle-office e front-office) cujo retorno ocorre sempre que existe fluxo financeiro pelas vendas realizadas. A captura de valor (lucro económico) é o objectivo final de uma empresa.
Tipicamente, a empresa determina o capital, a dívida de longo prazo e o investimento em ativo de longo prazo. Com o dinheiro da diferença entre os recursos permanentes e o valor do ativo não corrente, a empresa inicia a sua atividade.
As decisões estratégicas e correntes têm como objetivo mitigar o risco interno (específico) relacionado com o próprio negócio e a actividade desenvolvida, e o risco externo (mercado) relacionado com a conjuntura nacional e internacional (condições económicas, estabilidade política, legislação, regulamentação, fiscalidade, condições naturais, entre outras).
A Estrutura Comercial e Administrativa deve ser ágil, simples e eficaz para permitir realizar e cobrar vendas de forma eficiente, em canais presenciais e digitais. Hoje, todas as empresas têm de estar preparadas para agir no mercado global a partir da sua presença local.
A margem incorporada no preço de venda de bens e serviços deve ser suficiente para cobrir todos os custos variáveis e, ainda, parte dos custos fixos. A margem bruta, resulta da dedução às vendas dos custos de matérias vendidas e matérias consumidas (CMVMC). Estes custos serão tanto menores quanto mais otimizados forem os processos de produção e restantes de negócio, assim como, a eficácia da Política de Inventários.
O CMVMC obtém-se somando a existência inicial de inventários ao valor das compras e diminuindo a existência final de inventários. Saber comprar e saber produzir é tão importante quanto saber vender.
O primeiro resultado disponível para todos os stakeholders da empresa (Accionistas, Financiadores, Fornecedores e Estado) é o resultado antes de juros, impostos, provisões e amortizações (em inglês, o EBITDA – “Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization”).
O EBITDA é o cash flow operacional que traduz a capacidade da empresa gerar os fundos necessários à manutenção do equilíbrio financeiro e ao financiamento do seu crescimento, através da sua actividade. Considera somente custos e proveitos de exploração.
A dimensão da empresa deve reflectir a dimensão do negócio. Significa que a estrutura de custos (risco operacional) deve ser flexível para acomodar a instabilidade da procura e a volatilidade dos custos e do preço (risco de negócio).
Quanto melhor é a margem de contribuição, menor é o efeito dos custos fixos e maior é a rotação do ativo, melhor é o retorno de capital investido na actividade normal de exploração da empresa (em inglês, o ROI – “Return on Investment”).
A rendibilidade do investimento determina a capacidade do negócio em gerar resultados considerando o investimento que lhe está associado, independentemente da forma como foi financiado (capital próprio e/ou capital alheio).
A Política de Determinação do Custo de Capital é determinante para a empresa pois representa a taxa de financiamento da mesma no tempo. Obtém-se considerando o peso do capital dos investidores (capital próprio) e dos credores (capital alheio) no capital total (as diversas fontes de financiamento), a multiplicar pela taxa de remuneração média exigida por cada uma das fontes de recursos.
O custo médio ponderado de capital (em inglês, a WACC – “Weighted Average Cost of Capital”) representa o custo médio dos recursos do capital que a empresa utiliza. Ao utilizarmos esta taxa na atualização dos cash flows da empresa, estamos a garantir a distribuição da rentabilidade que esses mesmos cash flows vão gerar pelas diversas fontes de capital. Porquê? Porque a WACC é a rentabilidade ponderado da dívida depois de impostos e de capitais próprios.
O custo do capital próprio é a remuneração exigida pelo accionista tendo em consideração o custo de oportunidade de capital, isto é, a remuneração da segunda melhor alternativa de investimento posta de lado, em detrimento da atual. Isto significa que o lucro líquido contabilístico obtido pela empresa pode ser positivo, mas inferior ao lucro económico exigido pelo accionista.
O custo de capital alheio depende do poder de negociação que a empresa tem junto da Banca. Os encargos financeiros médios resultam do rácio entre encargos financeiros referido na Demonstração de Resultados e o Passivo Financeiro referido no Balanço (o crédito bancário continua a ser a principal fonte de financiamento das empresas).
As empresas recorrem a capitais próprios (capital social, meios libertos pela empresa não distribuídos, prestações acessórias de capital, etc) e a capitais alheios (financiamentos bancários, leasings, empréstimos obrigacionistas, desconto de letras e livranças, etc.). Mas como se decide a estrutura de capital da empresa? A resposta certa é “depende”.
Quando não existe dívida o valor da rendibilidade do investimento é igual à rendibilidade do capital próprio.
A decisão de recurso ao capital alheio é uma forma de “alavancar” a rentabilidade do investimento por aumento da participação de capital alheio na empresa. Quanto maior a dívida maior a rentabilidade do capital próprio.
Se pensarmos no rácio resultado líquido sobre capital próprio (em inglês, ROE – “Return on Equity”), este será tanto maior quanto maior o peso do numerador face ao denominador. O capital próprio é tanto menor quanto maior for o recurso a capital alheio.
Aumentar o capital alheio é eficaz enquanto o custo do capital alheio for inferior à rentabilidade do investimento. Quando é superior destrói o valor criado pela actividade de exploração da empresa.
Devemos ainda ter em conta o efeito fiscal por via da existência de encargos financeiros. Estes representam um custo, pelo que o resultado antes de imposto será inferior, traduzindo-se numa redução de imposto sobre o lucro. Saber gerir a eficiência fiscal é também uma tarefa da gestão.
Não se deve esquecer, no entanto, que o aumento da divida aumenta o risco de solvência da empresa, em caso de redução do volume de negócios inesperada ou de qualquer outra qualquer razão que origine a redução do EBITDA.
Em tempo de recessão, se a diferença entre o retorno do investimento e o custo do passivo desce, podendo até tornar-se negativa, e se o endividamento é elevado, a rentabilidade do capital próprio desce repentinamente.
É o EBITDA que garante uma maior ou menor cobertura do serviço de dívida, entenda-se o capital e juros devidos por um empréstimo, durante o prazo da operação nas condições definidas pelos intervenientes (devedor e credor).
Por outro lado, quanto maior a rentabilidade do capital próprio face à rentabilidade dos capitais permanentes, maior é a “alavancagem” financeira e maior será a possibilidade da empresa em distribuir dividendos pelos accionistas.
A distribuição de lucros advém da Política de Dividendos (Payout). Quanto mais dividendos se distribuírem menores resultados líquidos do exercício permanecem na empresa para financiar o crescimento das vendas.
A Política de Crescimento Sustentável das vendas está pois dependente do crescimento dos lucros retidos pela empresa. Os lucros retidos permitem financiar novos ativos, em maior ou menor grau, em função do “alavancamento” financeiro (ativo sobre capital próprio).
As condições operativas (o produto da margem pela rotação) e as políticas financeiras atuais (o produto da “alavancagem” pela taxa de retenção de lucros) crescem à percentagem obtida, sem necessidade de novas injeções de capital.
Qualquer Política de Endividamento e de Estrutura de Capital deve garantir a regra de equilíbrio financeiro: “qualquer elemento do activo deve ser financiado por capitais que se mantenham na empresa por um período temporal equivalente à permanência desse activo na empresa”.
O capital permanente (capital próprio e o passivo não corrente) deve financiar o activo não corrente, assim como, o passivo corrente deve financiar o activo corrente.
A diferença entre as massas patrimoniais mencionadas nos dois exemplos anteriores representa o fundo de maneio (FM) líquido da empresa.
Quando o resultado do FM é positivo, significa que parte dos capitais permanentes não foram aplicados em activo imobilizado (o ativo não corrente), ficando disponível para as operações, isto é, para financiar parte das necessidades de fundo de maneio, as necessidades de financiamento requeridas pelo ciclo de exploração da empresa.
A Política de Investimento Estratégico define quais os investimentos em Capex –“Capital expenditure” (imobilizado bruto ou investimento em bens de capital) e como se vão financiar, por recurso a capital próprio ou a capital alheio. A alocação de recursos permanentes a activos não correntes garante a manutenção do equilíbrio financeiro e, simultaneamente, a decisão sobre a composição do seu financiamento, determina a “alavancagem” financeira que se pretende ideal para a empresa.
Da mesma forma, define-se o valor destinado a Opex – “Operational expenditure” (despesas operacionais). A empresa deve identificar as necessidades de fundo de maneio (NFM) em função das necessidades cíclicas (inventários e clientes) e dos recursos cíclicos (fornecedores e Estado) da empresa. O investimento em NFM é proporcional ao volume de vendas, que é maior ou menor de acordo com a sua actividade regular e / ou sazonal.
Apurado o fundo de maneio e as necessidades de fundo de maneio (permanentes ou esporádicas) podemos aferir sobre a tesouraria líquida da empresa e, desta forma, perceber qual o financiamento bancário que é necessário obter em passivo financeiro de curto prazo.
Qualquer empresa deve avaliar temporalmente o Ciclo de Exploração da sua atividade de forma a quantificar os tempos consumidos na encomenda, no pagamento a fornecedores, na produção, no armazenamento, na venda e no recebimento de clientes, para perceber claramente qual o ciclo de caixa (prazo médio de pagamentos acrescido do prazo médio de armazenamento e deduzido do prazo médio de recebimentos).
A Política de Investimento Corrente deve permitir que o passivo espontâneo, que representa o passivo não financeiro, aquele que não é onerado em juros (os recursos cíclicos) financie as necessidades cíclicas. Quanto mais eficiente for a gestão das necessidades de fundo de maneio menor serão as necessidades de financiamento de curto prazo (conforme acima referido).
A gestão financeira é pois o resultado conjunto das decisões estratégicas (médio e longo prazo) e das decisões correntes (curto prazo), que devem ser complementares entre si, para garantir a sustentabilidade da actividade normal de exploração da empresa por diversos anos civis de funcionamento.
Conclusão
As empresas existem para serem rentáveis, líquidas e seguras. A sua continuidade está condicionada à libertação de cash flows, gerados pela sua actividade corrente. Os cash flows são os fluxos financeiros que lhe permitem liquidar os encargos assumidos perante terceiros.
As empresas dizem-se rentáveis sempre que remuneram adequadamente o capital económico investido, apresentam uma estrutura adequada à dimensão do negócio e quando o seu rácio cost-to-income deriva da eficiência de funcionamento dos custos e dos proveitos.
As empresas dizem-se líquidas sempre que existe equilíbrio financeiro. Significa que existe equilíbrio entre a disponibilidade dos recursos investidos e a exigibilidade do passivo, o que permite honrar as obrigações da empresa no dia do seu vencimento.
As empresas dizem-se seguras quando estão preparadas para suportar perdas futuras não esperadas, como sejam, por exemplo, uma redução no volume de negócios, um elevado incumprimento do crédito concedido aos seus clientes, uma dificuldade de obtenção de fornecimentos de matérias-primas, um aumento inesperado do preço de um qualquer factor de produção, da taxa de juro, da taxa de câmbio ou mesmo da taxa de inflação.
A sustentabilidade de uma empresa, independentemente do seu sector de actividade, está pois dependente da sua rentabilidade, liquidez e segurança, pilares estratégicos que são assegurados pela libertação de cash flows regulares.